Câmara suspende sessão sobre golpe militar após tumulto no plenário
Grupos contra e a favor dos governos militares trocaram acusações.
Manifestantes viraram as costas quando deputado Bolsonaro foi à tribuna.
A sessão foi interrompida quando duas mulheres que acompanhavam os discursos, uma que defendia os militares e outra que protestava contra o golpe de 1964, trocaram empurrões e beliscões. Uma das agressoras terminou derrubada no chão.
A briga entre as duas mulheres começou logo após um grupo favorável à ditadura levantar uma faixa na galeria do plenário que dizia: “Parabéns militares 31/março - graças a vocês o Brasil não é Cuba" (veja no vídeo abaixo o momento em que a faixa é levantada).
Uma mulher que se identificou como Ivone Luzardo, presidente da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas do Brasil, segurava um cartaz dentro do plenário que pedia “respeito e valorização aos profissionais militares”.
Em meio à confusão, a sessão foi suspensa e reaberta minutos depois. As duas mulheres continuaram tentando se agredir, enquanto parlamentares e assessores tentavam separá-las. Ivone Luzardo acabou caindo no chão, onde ainda ficou por alguns instantes, deitada e chorando.
A
Câmara suspendeu nesta terça-feira (1º) solenidade em plenário para
lembrar os 50 anos do golpe militar depois de tumulto envolvendo grupos
contrário e favoráveis a atuação dos militares (Foto: Antonio Augusto /
Câmara dos Deputados)
Nova interrupçãoApós a retomada da sessão, continuaram os discursos em plenário. Depois de quatro parlamentares subirem à tribuna para criticar o período da ditadura militar, chegou a vez do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ).
O parlamentar, conhecido defensor das Forças Armadas, vinha anunciando nos últimos dias que participaria da sessão para defender o governo militar, que durou de 1964 a 1985.
Na momento em que Bolsonaro ia começar a discursar, grupos de parlamentares e convidados ligados a partidos de esquerda viraram as costas para o deputado fluminense.
Por sugestão do secretário-geral da Mesa, Mozart Vianna, servidor de carreira da Câmara, o deputado que presidia a sessão, Amir Lando (PMDB-RO), decidiu interromper mais uma vez a sessão.
Deputado
Jair Bolsonaro acompanhou sessão sobre os 50 anos do golpe militar ao
lado de manifestantes contrários à ditadura (Foto: Felipe Neri/G1)
A solenidade ficou suspensa por cerca de cinco minutos e, ao reiniciar,
diante da continuidade do protesto dos críticos à ditadura, Amir Lando
determinou a suspensão definitiva.A Secretaria-Geral da Mesa aconselhou pela suspensão por considerar haver “comportamento inadequado” e “desrespeito” à Casa. Além de Bolsonaro, outros seis parlamentares ainda aguardavam para fazer pronunciamento.
“Tenho o conhecimento de que a democracia é conflito, mas se não houver aqui entendimento não posso prosseguir esta sessão com situação desrespeitosa [...]. A democracia é muito mais que o protesto. A democracia é, sobretudo, o diálogo. As partes têm que ouvir as outras, se não quiserem ouvir que se retirem. Se não tem solução, eu encerro a presente sessão”, declarou Lando.
Clima tenso
Antes mesmo do início da solenidade, o clima na Câmara era de tensão. Na entrada do plenário, o deputado Amauri Teixeira (PT-BA) brigou com seguranças que tentaram barrar a entrada de estudantes. Os seguranças alegavam os estudantes precisavam de de senha. O acesso foi permitido logo após os jovens mostrarem que tinham um número que identificava a autorização para participar.
Do lado de fora do plenário, momentos antes do início da sessão, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) já havia se envolvido em confusão. Durante uma entrevista a um grupo de jornalistas, chamou uma repórter Manuela Borges, da RedeTV, de “idiota” e “analfabeta” – ela informou que entrará com queixa contra o parlamentar na Corregedoria da Casa.
Bolsonaro se irritou quando a jornalista questionou, por mais de uma vez, se ele estava dizendo que o golpe militar não existiu. Bolsonaro defende que o golpe foi iniciativa do Congresso, que destituiu do poder o ex-presidente João Goulart.
“Quem cassou João Goulart? Foi o Congresso no dia 2 de abril [...]. Não faça uma pergunta desse padrão”, disse Bolsonaro. “A história toda está contra o que você diz”, argumentou a jornalista.
“Você é uma idiota. Você aprendeu onde isso aí? Estou falando que está no 'Diário do Congresso'”, rebateu Bolsonaro. “Você é uma analfabeta [...]. Não atrapalhe seus colegas [jornalistas], você está censurada”, completou.
Na madrugada do dia 2 de abril de 1964, o então presidente do Congresso Nacional, Auro de Moura Andrade, convocou uma sessão extraordinária para declarar a vacância da Presidência da República sob o argumento de que o então presidente, João Goulart, havia abandonado o governo.
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