Após confrontos, oposição dá ultimato ao governo da Ucrânia
Opositores pró-Europa exigem concessões e eleições antecipadas.
Onda de violência provocou 5 mortes em Kiev e gera apreensão no país.
Manifestantes e policiais se mantiveram distantes nesta quinta-feira }(23), separados por uma barricada de pneus em chamas. Mas o clima continua muito tenso e os líderes da oposição lançaram um ultimato ao poder.
O opositor ucraniano Vitali Klitschko fez um apelo nesta quinta-feira aos policiais e manifestantes reunidos na rua Grouchevski, palco de violentos confrontos desde domingo, por uma trégua até as 18h GMT (16h no horário de Brasília), à espera do resultado das negociações com o governo.
"Voltarei aqui às 20h (locais) para informar o resultado das negociações", declarou o ex-pugilista, citado pela agência de notícias Interfax. Um fotógrafo da AFP confirmou sua presença no local.
"Se este não for o caminho escolhido, eu digo a mim mesmo: eu não vou viver na vergonha. Nós todos vamos avançar juntos, mesmo que o resultado seja uma bala na testa", acrescentou, diante de dezenas de milhares de pessoas.
"Se Yanukovytch não fizer concessões, amanhã (quinta-feira) nós partiremos para a ofensiva", declarou, por sua vez, Vitali Klitschko, exigindo a convocação de eleições antecipadas.
Os representantes da oposição devem se reunir com o chefe de Estado ainda nesta quinta-feira, após as primeiras negociações de quarta-feira, que não resultaram em nada.
O movimento de contestação, lançado há dois meses em resposta à recusa do governo em assinar um acordo com a União Europeia em favor de uma aproximação com a Rússia, ganhou impulso desde a adoção de uma lei reforçando significativamente as punições contra os manifestantes, em vigor desde quarta-feira.
Desde domingo, a mobilização ganhou ares de guerrilha urbana, dando lugar a confrontos de uma violência sem precedentes nesta ex-república soviética.
Os confrontos se intensificaram na quarta-feira com vários ataques da polícia de choque, apoiada por um veículo blindado, contra as barricadas erguidas pelos manifestantes na rua Grouchevski, a algumas centenas de metros da Praça da Independência.
Os ataques foram acompanhados por disparos de bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral pela polícia, equipada com canhões de água, apesar de uma temperatura de -10º C. Os manifestantes responderam com coquetéis Molotov.
O coordenador do centro médico da oposição, Oleg Musiy, indicou quarta-feira ter contado cinco mortos e cerca de 300 feridos.
De acordo com o site Ukrainska Pravda, quatro das cinco pessoas mortas tinham ferimentos de bala.
Dezenas de manifestantes, alguns deles utilizando capacetes de obras ou de motos, voltaram a se reunir na manhã desta quinta-feira na rua Grushevski, atrás da cortina de chamas e fumaça, e lançavam esporadicamente pedras e coquetéis molotov.
Também eram ouvidas explosões ocasionais, aparentemente devido ao lançamento de bombas de efeito moral ou de gás lacrimogêneo por parte das forças de segurança.
Apesar da tensão latente, a situação está relativamente calma em vista dos combates dos dias anteriores, condenados pelos países ocidentais.
A União Europeia advertiu que "estudará possíveis ações e as consequências" para suas relações com a Ucrânia, enquanto Washington anunciou as primeiras sanções.
A Rússia, por sua vez, garantiu que não irá intervir na situação da Ucrânia, dizendo que "está convencida de que as autoridades ucranianas sabem o que precisa ser feito e encontrarão a melhor solução para voltar à normalidade e restabelecer a paz".
"Nós não conseguimos entender os embaixadores de países estrangeiros que trabalham em Kiev, que dizem o que as autoridades da Ucrânia devem fazer, e de onde devem retirar suas tropas e a polícia", afirmou o porta-voz do presidente russo Vladimir Putin, Dmitri Peskov, em uma entrevista.
Desde domingo, mais de 1.700 pessoas ficaram feridas em Kiev nos confrontos entre manifestantes e a polícia, segundo a oposição.
As autoridades anunciaram a prisão de ao menos 70 pessoas.
Nenhum comentário: